terça-feira, 8 de outubro de 2019

TEIMOSO - UM GORDINI POPULAR QUE NÃO DEU CERTO

Olha só o que eu publiquei em fevereiro de 2016: http://blogdogordini.blogspot.com/2016/02/um-breve-relato-da-familia.html

"Ao longo de 21 dias e durante 24 horas, uma equipe de 10 pilotos (recrutada pela Willys e chefiada por Luís Antônio Greco) se revezou ao volante de um Gordini no autódromo de Interlagos. Ao final da exaustiva prova, foram quebrados 133 recordes em 51.233 km, percorridos a uma velocidade média de 97 km/h. Em determinada volta, o exemplar dirigido por Bird Clemente capotou. O carro foi desvirado e, após 3 horas de marteladas para retirar os amassados, voltou à pista sem maiores problemas mecânicos, vindo daí o nome "Teimoso".
O TEIMOSO (na linha de montagem - foto ao lado) acabou se tornando a versão “popular” do Gordini para atender um programa do governo federal de incremento na produção e vendas da indústria automobilística. 
É que, com a derrubada do presidente João Goulart (em 31/03/1964), o Brasil experimentou um longo período de recessão e os automóveis acumulavam-se nos pátios das fábricas. 

A ideia do governo: oferecer financiamento de 4 anos pela Caixa Econômica Federal, com juros subsidiados de apenas 1% ao mês, mas apenas para os modelos mais baratos. A proposta envolvia a simplificação dos carros para se obter o menor preço acessível, mas sem a adoção de motores menos potentes (talvez porque não houvesse mais o que retirar do Fusca 1200 cm3 - 30 cv - ou dos 845 cm3 e 32 cv do Gordini, por exemplo).
Cada fabricante nacional arregaçou as mangas e, assim, o mercado teve acesso aos despojados VW Fusca “Pé-de-Boi”, o DKW “Pracinha”, o Simca “Profissional” e o Willys “Teimoso”. Era um quarteto desprovido de itens de acabamento, conforto e até de segurança, que faria qualquer dono de modelo 1.0 atual se sentir “por cima”.
Acima, as peças retiradas do Gordini "normal"

O TEIMOSO custava 60% do Gordini, mas sacrificava a segurança, a estética e o conforto, com discutível economia de escala
Ele não tinha lanternas traseiras (apenas a luz de placa com uma seção em vermelho, que supria as luzes de posição e de freio).
Nada de calotas, nem cromado nos para-choques e nos aros dos faróis. 
Também perdeu os piscas dianteiros e o logo da Renault na extremidade do capô dianteiro.
Por incrível que pareça, tinha apenas um limpador do para-brisa. 
Nada de tampa no porta-luvas, nem marcadores de temperatura e combustível, ou afogador automático do carburador, trava de direção e iluminação interna. 
Nenhum forro interno (nem no teto!) ou revestimentos acústicos. Imaginem a “escola-de-samba” na cabine, em dia de chuva. 
Os bancos resumiam-se a “esqueletos” recobertos por uma simplória napa (nas cores preta ou vermelha), mas que assegurava relativo conforto. 
As borrachas que emolduravam os para-brisas eram de borracha maciça, sem o filete comado.
A carroceria era oferecida nas cores cinza ou marrom, com os para-choques desprovidos dos "poleiros" e "garras" e pintados na cor cinza fosco (assim como as rodas).

A outra "vantagem" do Teimoso em relação ao Gordini (além do preço menor) é que tinha um desempenho superior e era mais econômico - afinal, ele pesava 70 Kg a menos...

Em 1966 foi lançado o TEIMOSO II, que recebeu novos tensores e buchas superdimensionados, ganhando em dirigibilidade.
Mas esse "Gordini despojado" não agradou ao mercado (assim como os outros 3 rivais “populares”), razão pela qual saiu de linha nesse mesmo ano.

Confira abaixo alguns detalhes do despojado Teimoso "de fábrica" (no mundo real, os proprietários entravam na primeira loja da esquina e aos poucos ia comprando as peças que equipavam o Gordini "normal"... ):

 Sem piscas, sem calotas, para-choques simples e nada de cromados
Painel sem o porta-luvas da esquerda, volante básico e  forro de eucatex nas portas
 
 Bancos com capas de napa e porta-malas sem forro.
 
O mesmo motor de 845cc e apenas uma lanterna atrás
 Assoalho sem tapete e nada de forro nos para-lamas e no teto
 
 Traseira com apenas uma lanterna central, para-choque sem poleiro e garras
A chave de roda servia para dar a partida quando a bateria arriava...

Um comentário:

  1. Excelente Publicação, Adriano.

    Nestes atuais dias de consumismo automobilístico, poucos de nós conhecem a história das tentativas, governamentais e/ou empresariais, de barateamento dos chamados Carros Populares.

    Creio que o Teimoso talvez tenha sido o melhor exemplo da época, posto que, legalmente, não precisávamos da maioria daqueles acessórios, como luzes de pisca, por exemplo, já que havia sinais de braço feitos pelo motorista.

    Meu pai teve um, era mais econômico e confiável do que o seu anterior Austin A-40 1948, que nos permitia, quando muito, ir ao Guarujá, Praia Grande etc., ao passo que com o Teimoso pudemos nos aventurar em viagens inter estaduais econômicas e seguras.

    Vendo essa foto logo acima, lembro que, aos 14 anos, era minha a missão de dar as primeiras voltas matinais do motor usando a manivela. Talvez esse fosse o segredo para depois o carro pegar mais fácil ao ser ligado pela chave de ignição.

    Lembro que na época os Gordinis tinham o apelido de Leite Glória (desmancha sem bater), mas não era bem assim. Só não podia era tentar mudar o equipamento original, colocando rodas largas etc.

    Creio que, dos nossos famosos pilotos dos anos 60, talvez o Emerson Fittipaldi tenha sido o que melhor soube usar o Gordini nas provas de longa duração em Interlagos, já que ganhou algumas derrotando protótipos Carreteiras, além de JKs, Simcas, DKWs... originais.

    Grato por todo este aprendizado, temporão, sobre a origem de um dos melhores carros que já tivemos.

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