segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

UM BREVE RELATO DA FAMÍLIA DAUPHINE/GORDINI/1093 E TEIMOSO - 1959/1968 (PARTE 1)

A WILLYS OVERLAND DO BRASIL foi fundada em 26 de abril de 1952, com capital de 50 milhões de cruzeiros e acionistas brasileiros (maioria) e americanos. 
A fábrica ficava no município de São Bernardo do Campo/SP e as atividades foram iniciadas em 1954, apenas montando os jipes willys americanos.

Em 1959 a Willys lançou, no Brasil, seu primeiro automóvel de passeio: o DAUPHINE
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O DAUPHINE (pronuncia-se "Dofini") era uma evolução do Renault 4CV, projetado antes da II Guerra Mundial por Fernand Picard. Dimensões do sedanzinho: 3,98m de comprimento; 1,52m de largura; 1,44m de altura e 2,27m de entre eixos. Peso: apenas 750 kg. O motor de 4 cilindros e 845cm3 ficava na traseira do veículo e era refrigerado a água. Ele rendia pífios 31 HP, e o câmbio era de 3 marchas (1ª não sincronizada). 
Para sair da imobilidade e atingir os 100 km/h eram gastos eternos 48 segundos. E a velocidade máxima era de 115 km/h, semelhante à do rival VW Fusca 1200. 
Fácil de manobrar, era também muito econômico (até 17 km/l de gasolina) e o tanque de combustível tinha capacidade para 32 litros. O porta-malas era dianteiro, como o do rival VW Fusca, mas impressionava com a boa capacidade de carga (200 litros) a partir de um truque simples: o tanque ficava posicionado, de pé, atrás do encosto do banco traseiro (o Chevrolet Chevette, lançado em 1973, oferecia o mesmo arranjo). Para mais segurança, a tampa do cofre dianteiro se abria contra o vento, e a parte de trás da carcaça dos faróis iluminava o porta-malas (um luxo!). A tomada para o ar do motor ficava dentro do porta-malas, na frente, e muitas vezes o carro enguiçava porque algum objeto fechava essa entrada de ar. 
Para retirar o estepe, alojado sob o assoalho do porta-malas, havia uma portinhola metálica no meio do pára-choque dianteiro. 

Havia uma prática e útil chave de roda para partidas de emergência (é por isso que o pára-choque traseiro tem um furo no centro).

As suspensões eram independentes nas quatro rodas, com o Aerostable (coxins de borracha cheios de ar à pressão atmosférica, que endureciam proporcionalmente ao aumento da carga). Perfeitas para as ruas e estradas europeias, aqui se tornaram dor-de-cabeça para os proprietários e quando perdiam a eficiência deixavam o carrinho instável e perigoso nas curvas. Para piorar, os proprietários não obedeciam a recomendação a pressão correta dos pneus, de 13 libras na dianteira e 19 na traseira. 
 As rodas eram fixadas por apenas 3 parafusos (características mantidas no Corcel I e II). 
O pisca instalado na coluna traseira logo desapareceria.

Ao contrário do que muitos pensam, o Dauphine conviveu por 3 anos com o Gordini, de 1962 a 1964, sendo sucedido em 1965 pelo Teimoso.

Em 1962 surgiu o GORDINI - versão mais potente do Dauphine, com o mesmo motor de 845 cc, 40 HP de potência bruta, câmbio de 4 marchas, faróis ligeiramente maiores e melhor acabamento. Era mais versátil no trânsito urbano, pois a nova transmissão explorava melhor a maior potência do motor. Mas ele “apanhava” do Dauphine em longas subidas, porque o motor ora pedia a segunda marcha (curta), ora pedia a terceira (mais longa), enquanto o Dauphine subia tranquilo em segunda. 
A velocidade máxima do Gordini era de 123 km/h, e acelerava de 0 a 100 km/h em 28,7 segundos.
De 1963 a 1965 o carrinho foi ganhando contínuos aperfeiçoamentos mecânicos. 

A partir do modelo 1966, o nome passou a ser seguido de um algarismo romano – surgindo o GORDINI II (clique na imagem à esquerda). 
O modelo ganhou importantes alterações de ordem mecânica e cosméticas.
Foram adicionados novos frisos e o bocal da tampa do radiador mudou para um local mais seguro (antes, ficava no cofre do motor).  
O modelo ganhou tensores e buchas superdimensionados, que deram ao veículo mais dirigibilidade. 
Ele recebeu um novo carburador que o deixou mais Esperto e até mais econômico. 
Em abril de 1967, veio o anúncio de que a Willys-Overland do Brasil seria absorvida pela Ford. A Kaiser americana aproveitou uma conjuntura favorável e se desfez de suas fábricas de automóveis. A IKA (Indústrias Kaiser Argentina) foi para as mãos da Renault. A Kaiser-Jeep norte-americana foi vendida à American Motors e, finalmente, a Willys-Overland do Brasil foi vendida para a Ford. 
Ainda em 1967 foi lançado o GORDINI III, que recebeu novas lanternas traseiras, com formato retangular. A charmosa luz de placa traseira diminuiu de tamanho e migrou para o para-choque. Opcionalmente vinha com freios a disco nas rodas dianteiras e equalizador de pressão para as rodas traseiras (o que em tese permitia freadas mais seguras). Novas relações de marchas elevaram a velocidade máxima e diminuíram o consumo. Nesse ano houve um aparente retrocesso: o bocal do tanque voltou para o interior do cofre do motor. Sem aparente explicação oficial, comenta-se à boca miúda que alguns proprietários reclamaram da "gasolina que derramava pelo bocal e manchava a pintura". Por três motivos, decerto: o primeiro, um hábito do brasileiro – acostumado a viajar longas distâncias – de mandar encher o tanque “até a boca”. Em consequência, o tanque “supercheio” vazava em dias de calor, pela expansão dos gases; em função de curvas feitas em velocidade elevada; e em arrancadas ou freadas bruscas...

O ano de 1968 foi o último de produção do modelo, batizado como GORDINI IV. Em relação ao ano anterior, oferecia apenas novas cores. O chamariz da propaganda era no mínimo exótico: "que o consumidor comprasse um Gordini para ser  diferente" (é que havia milhares de Fuscas nas ruas em comparação a Gordinis e derivados). A Ford-Willys se preocupou apenas em desovar os estoques do modelo, e no mesmo ano paralisou a produção do Gordini, para lançar o Corcel (projeto Renault).

O que muitos perguntam é: POR QUE A WILLYS NÃO EVOLUIU O PROJETO DO GORDINI COMO FEZ COM O AERO? A resposta é simples (e revoltante): quando a Renault concedeu a licença para produção do carrinho em solo tupiniquim, proibiu qualquer alteração substancial no projeto, tolerando apenas alterações de ordem “cosmética” (como novas cores, padrões de estofamento etc) e de segurança (freios-a-disco, por exemplo, mas apenas em 1967, quando o modelo começava a se despedir do mercado nacional).

Continua...

Um comentário:

  1. Gostaria de saber qual o tamanho da vareta de nível de óleo, o meu Gordini 1963 está sem ela e não encontrei para compra, sabendo seu comprimento poderia ver outra que poderia substituir, obrigado!

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